2010-06-17

Poesia solta

Reading Africa I 


No white dove or rainbows*, 

No exotic mirror or immaterial rituals. 

No black revival or utopian eyes. 

But a shadow bending over 
In a dark street 
in old Dakar. 

Or maybe a child 
Still 
moving, 

Reaching out for new words. 



(*from the poem “Commandments” by Tony Barnstone) 







Reading Africa II 


It takes a poet to know 
another poet, 

It takes a child to find 
the right words, 

It takes a hand 
to define the flight 

freedom 

is nothing but the uncanny semantics 
of unstable signs. 




Berkeley, December 7th 2001 

Modernisme en Afrique Lusophone et Déconstructions du Vraisemblable

1. Considerations sur les particularités des transitions vers le Modernis me en Afrique lusophone: les modernismes, le post-colonial et le post-moder ne 

En partant de réflexions que nous avons menées préalablement, nous pro po sons une périodisation littéraire qui soit un point de départ pour la discussion de la diversité artistique que l’on peut identifier depuis les années 20 en Afrique lusophone. Il y a eu plusieurs perspectives suggérant l’existence d’un canon commun à ces nations, mais nous trouvons, au contraire, qu’il y a plutôt des signes constants de diver sité. 
La façon dont ces différentes littératures ont dévelopé des stratégies de supération, ou simplement de révision, du réalisme, nous intéresse en tant que parcours vers des définitions particulières du Modernisme africain. 





2. L’insularité capverdienne: singularité et canonicité ou l’angoisse de l’influence 

La littérature du Cabo Verde est fréquemment associée à celles du Portugal et du Brésil. Les écrivains eux-mêmes ne se révèlent pas réluctants à cette proximité: au contraire, ils la réclament très souvent. 
En même temps, il y a un impulse en direction contraire, c’est à dire, vers la construction d’une identité littéraire marquante: les diverses générations d’écrivains ont pris en charge des reconstructions successives d’une langue littéraire nationale. En même temps, les femmes écrivains ont démontré une résistance à l’expression réaliste (mais pas nécessairement au vraisemblable, en tant que somme de possibles), à partir du fantastique, presque institué comme un genre autonome. 

3. Changement historique et appel réaliste à Angola 

La chronique et le roman historique ont eu une très grande importance à Angola jusqu’à nos jours. En effet, soit avant l’indépendance en 1975, soit pendant les années 80 et 90, l’impulse des écrivains a été surtout de revoir et, jusqu’à un certain point refaire, l’histoire coloniale et, ou, l’histoire nationale. Colonisation, autonomie linguistique, identité nationale, diversité culturelle, tradition et modernité, sont toujours des thèmes de référence pour ceux qui prennent en charge une fonction artistique et politique en même temps. En effet, les intelectuels angolais ont mantenu un rapport permanent avec le pouvoir politique et l’ União de Escritores Angolanos s’addressait aux problèmes littéraires à travers un regard interventif, étant responsable pour une définition privée de canonicité et pour la régulation des éditions prioritaires. 
Cette mémoire se mantient aujourd’hui mais les gestes de supération dans la fiction sont présents, surtout par des procédés réthoriques et énonciatifs de grande complexité. 

4. Instabilité sémantique et pessimisme au Moçambique 

Le cas du Moçambique a des particularités qui se rapportent à sa localisation géographique et stratégique, bien qu’aux caractéristiques de la guerre civile qui a suivi l’indépendance. Situé en Afrique orientale, ses cultures portent des marques africaines, européenes et asiatiques. Cette diversité a permis le développement d’une littérature de complexes multiplicités linguistiques et mytho logiques et surtout une instabilité sémantique qui assure la decons truction permanente de référents previsibles. 
En même temps, on peut - dans cette fiction qui s’est manifestée tardivement - identifier comme trait fondamental le portrait de la guerre civile et de ses conséquences. Issue d’un pessimisme classifié souvent comme afro-pessimis me - ceci étant un trait presque génologique - la littérature du Moçambique se révèle comme une littérature pleine d’instabilités et de croisements de langages et de discours, ce qui peut nous aider à mieux comprendre la façon dont le Modernisme et le Post-modernisme se manifestent en Afrique. 

Mulheres a Sul

Mulheres e Escritoras Angolanas 
Heranças e Revisitações 

É fácil fazer corresponder a Angola a própria imagem das suas mulheres, através de uma multiplicidade de retratos que tanto nos sugerem uma dimensão de sacrifício ou heroís mo, associável à vivência da guerra, como a celebração da fertilidade e da beleza. 
Estas hipóteses, que têm a natureza evidente de estereótipos, têm surgido modalizadas, li das e revistas das mais diversas formas na literatura angolana. Os poetas oitocentistas propuseram-nos ima gens convencionais que viviam da exaltação física da mulher e da selecção de códigos de época adaptados ao gosto comum, que valorizava largamente o exotismo. 
Muitos ficcionistas da primeira metade do século XX interessa ram-se por esta mesma perspectiva, tendo mantido a visão da mulher africana próxima de modelos de beleza e compor ta mento de referência europeia ou de afeição a um público que pouco conhecia a realidade africana ou que sobre ela tinha sobretudo representações de dimensão etnocêntrica. 
Autores que vêm escrevendo nos nossos dias propõem-nos uma diversidade de visões, sobre Angola e sobre as suas mulheres, que devem merecer o nosso interesse e atenção, dado que repre sen tam muito do que é a complexidade dos mundos africanos hoje, tanto do ponto de vista social como político ou cultural. 
Retratos como o de Lueji, a rainha que Pepetela exalta como líder de toda uma Nação, fazem-nos compreender que se trata de uma alegoria necessária à revisão de uma parte da História, na procura de um caminho de construção da identidade colectiva e da re vi si ta ção de factos do passado longínquo que assim se convertem em exemplos pro jec tá veis no futuro. 
A intensidade de Boneca, de Arnaldo Santos, representa outro lado deste efeito: ela é uma personagem que nos aproxima do entendimento do realismo angolano, constituindo-se ícone de uma geração e do valor do lugar onde se vive, nasce e morre. Celebrando e confirmando a relação entre o homem e o lugar que habita, reflecte a permanência de um elo entre o indivíduo e a sociedade, entre o indivíduo e a cultura que o gera e de que ele próprio é responsável e transmissor. 
Outros escritores, como Luandino Vieira e Ruy Duarte de Carva lho, vêm dando contributos igualmente significativos para a cons tru ção desta diversidade. 
Podemos encontrar no primeiro uma mulher interventiva, crítica, capaz de exercitar as suas capacidades cívicas com eficácia, mantendo, a par do homem, uma acção correctora da realidade. O próprio facto de a imagem do musseque ser predominante nos textos de Luandino acentua o efeito de pertença a um espaço que é necessariamente de projecção ideológica, entre duas culturas, entre dois mundos que, tendo que conviver, só existem na medida da sua relação de conflito e por essa via exclusiva se constroem simbolicamente. Aí, as mulheres, a par dos homens, exercem o controle das discussões, das diferentes formas de regulação defensiva da existência. 
O segundo autor, de forma muito diversa, faz as figuras de mu lheres participarem de um entendimento da sociedade angolana como um imenso organismo ecológico, em que a nação kwanyama e o universo cosmopolita de Luanda são lados sensí veis de uma mesma realidade. A cultura do outro e a minha tornam-se parte integrante de um percurso que se faz pelos caminhos da constante perquirição existencial e ética. 
O lugar onde a diversidade das imagens sobre a mulher assume um esplendor determinante é o da própria escrita de mulheres. E neste caso é a poesia que melhor retém os elementos neces sá rios ao entendimento de retratos de complexidade profunda. Aqui, as próprias escritoras convertem-se em figuras exemplares de uma História em construção. 
Para Paula Tavares, aquilo que se privilegia é sem dúvida uma complexa forma de adequação entre subjectividade e presença de uma voz colectiva de extracção tradicional. Essa voz subjectiva é eivada de cumplicidades, consciente de uma identidade pensada nos limites da experiência gregária. Os rituais assumem também a importância de marcos existenciais que acentuam o conheci mento dos mundos misteriosos e de segredos de expressão co lec tiva. E a escritora aparenta partilhar em permanência esses segre dos com as mulheres que observa. 
Em Maria Alexandre Dáskalos a poesia aparece como matéria subversiva, a quebrar os nexos entre o tempo da diáspora, imobilizado pela espera, e o encantamento dos mundos familia res. Suspensas, as horas tecem os dias por conquistar e preparam o lugar dos reencontros. Tempo e lugar criam a isotopia das palavras que hão-de revelar a saída do labirinto existencial, pelos gestos que irão finalizar todos os indícios de mudança. O universo feminino desta autora é afinal revisitação das grandes figuras míticas de mulheres da cultura antiga. 
Entre a tradição, através da multiplicidade das suas diversas heranças, e a leitura das mudanças sensíveis, estas escritoras lançam matéria nova sobre as variações dos limites da subjecti vidade na poesia angolana. Com desconcertante optimismo. 
A mulher angolana, à semelhança da mulher de que a literatura fala, acompanha e protagoniza a História que se escreve e rein venta a cada novo texto. 

A Língua Portuguesa - A Língua Portuguesa em África: perspectivas presentes e futuras

Este breve texto é uma proposta de reflexão acerca de algumas das questões que, em meu entender, merecem destaque na situação actual do desenvolvi mento e ensino do Português em África. No sentido de concretizar esse propósito, focarei três tópicos fundamentais: 


1. Evidência e consequências dos fenómenos de expansão lin guística; 
2. Regionalização e Internacionalização; 
3. Revisão de Modelos Didácticos e Pedagógicos. 


1. Não é estranho à maioria das pessoas o facto de, nomea damente em Angola e Mo çam bique, a língua portuguesa ter conhecido nas últimas décadas uma expansão territo rial muito significativa. As razões para este fenómeno são claras, depen dendo tanto de um expansionismo marcado pela dester ri to rialização em tempo de guerra, como de uma pressão exercida pelos meios dominantes de comunicação social e pelo exercício continuado de procedimentos administrativos e oficiais dos quais a LP é meio veicular. 
Ouvimos há dias a Professora Perpétua Gonçalves, da Universi da de Eduardo Mondlane, na FCG, constatar o facto de esta realidade vir igualmente acom panhada de uma progressão nas dinâmicas de alfabetização. A coincidência destes fenómenos autoriza-nos a concluir que vivemos uma situação em que a importância desta língua representa na actualidade, de forma empírica e obser vável, o desiderato do período pós-indepen dên cia, a saber, a natureza transversal de LP e a sua cons­tituição como platafor ma comu ni cativa extensiva. 
Em conversa com um responsável universitário em Angola, constatámos o interesse em eleger como área de intervenção prioritária a LP. Existe hoje uma consciência profunda da necessidade de um agenciamento rápido e eficaz de vontades neste terreno. Como nos era referido, não teremos outra oportunidade, “é agora ou nunca”. 
De facto, temos que concordar que em Angola a rápida expansão de LP não tem vindo acompanhada de uma sustentada intervenção no terreno das competências pedagó gicas e das políticas de desenvolvimento para este sector. Independentemente da grande diversidade de razões que podem estar na base deste fenómeno importa proceder rapidamente no sentido de : 

· elaborar uma profunda e séria análise da situação nacional em termos de alfabetização e iliteracia; 
· proceder a uma renovada análise da situação das línguas africanas bantu e de outras línguas que possam ter presença significativa em território nacional; 
· organizar e manter operativas actividades permanentes de formação contínua (é conhecido o facto de os professores não deterem, na sua esmagadora maioria, instrumentos eficazes de trabalho e de auto-avaliação e reflexão sobre as práticas respectivas); 
· organizar e manter, no sentido de uma planificação edu cativa autosustentada e autónoma, formação pós-gra duada intensi va; 
· iniciar a planificação de um projecto de dimensão nacional tendente à construção e manutenção de acti vi dades de elearning. 

Moçambique e Cabo Verde têm dado passos consequentes em alguns destes domínios, passos esses que podem, juntamente com outros exemplos de práticas de sucesso em África (veja-se a África do Sul, por exemplo), constituir fontes de motivação e inspiração para as exigências que se colocam a Angola. Reside, em nosso entender, numa consequente estratégia de identi ficação de transver sali dades em território africano a resposta a uma eficaz construção de modelos pedagógicos e educativos com futuro. O segredo estará em serem dados passos curtos mas seguros do ponto de vista nomeadamente de uma validação científica exigente e ri go rosa. 


2. O impacto regional que países como Angola, Cabo Verde e Moçambique podem ter no domínio da expansão da língua é outra questão que não pode ser ignorada. O seu peso e autoridade po lí ticos são garante de equilíbrios que justificam o seu valor nas regiões geo-estratégias em que se incluem. O facto de esta localização, com valor sociopolítico mas também cultural, se fazer em círculos de dupla e tripla dimensão, é um facto acrescido de validação da sua importância. Assim, Cabo Verde está presente nos organismos de representação africana, mas também partilha interesses com os de língua francesa; Moçambique está inelutavelmente próximo dos países da Commonwealth; Angola constitui-se como país de peso decisivo no SADC e em outros organismos africanos. Todos eles assu mem responsabilidades na CPLP. 
O valor das multiplicidades aqui implicadas é óbvio e tem que ser visto, de uma vez por todas, como mais-valia com interesse político e cultural para todos os países de língua portuguesa. 
Ao invés de nos escudarmos em estratégias e discursos de dimensão defensiva temos todos que avaliar as nossas compe tências em nome de uma eficácia progressiva e aplicá-las de forma descomprometida e autónoma mas regulada sempre que possível por princípios de procedimento associativo. 
Acreditamos que só desta forma encontraremos os modelos de desenvolvimento que possam ser fundadores de uma resposta aos diferentes problemas que se vão colocando em cada con texto. 
Independentemente de as diferentes realidades nacionais terem impacto de valor supra-nacional e continental, importa tam bém deixar uma palavra para a evidência da necessidade de constituição apropriada de modelos de desenvolvimento regio nal. Um dos grandes riscos do mundo contemporâneo, em inúmeros contextos, e aos quais não escapam, naturalmente, os países africanos, reside na macrocefalia urbana e na imposição de modelos de desenvolvimento basea dos na secundarização das regiões periféricas. 
Não podemos ter dúvidas acerca da necessidade imperativa, por razões de sobrevivência e de interesse nacional, de encontrar soluções para estas realidades. 
A preocupação com estes princípios não é estranha aos forma dores e aos que se dedicam a planificar estratégias de formação de formadores em ensino de línguas, muito embora raramente se tenham visto criadas as condições necessárias à sua eficaz implementação. 


3. Todos os que nos dedicamos à análise e concretização de modelos pedagógicos, em particular no ensino de línguas, te mos a consciência de múltiplos factores que frequentemente inibem uma ajustada intervenção educativa no domínio da língua portuguesa. Citamos apenas alguns que, em nosso entender, correspondem a essa problemática: 

· a existência de um quadro “mitológico” responsável por inúmeros lugares-comuns e estereótipos acerca do modo como se fazem as aprendizagens; basta pensarmos nas velhas e gastas ideias de que o texto literário é óptima fonte de aprendizagem linguística, de que aprendemos a falar apenas ouvindo, de que aprendemos a escrever apenas lendo, de que aprendemos a ler apenas tendo como modelo ilocutório o professor, de que as diferentes formas de pronunciar a língua se constituem como défice de competência linguística; 
· a existência generalizada de quadros de aprendizagem baseados em modelos totalmente ultrapassados e resul tantes de uma ordem de base funcionalista e em que a planificação por objectivos continua a ocupar, inadequa da mente em nos so entender, um lugar de grande des taque; 
· associa-se este procedimento à ideia recorrente de que o que está em causa é o “ensino-aprendizagem” e não um pro cesso que deveria ser, ao invés, de “aprendizagem-en si no”. 

Tomando esta última questão como prioritária, devemos lem brar que a investigação que nos últimos dez anos, aproxima da mente, tem reunido contributos da Psicologia (a saber, dos estu dos sobre Cognição) e da Didáctica, aconselha a que reno ve mos o ensino de línguas, e muito particularmente no que às línguas segundas diz respeito, a partir dos seus princípios. 
Trata-se de valorizar por exemplo questões como: 

· considerar que a aquisição e uso de uma língua pres su põem competências cognitivas complexas que podem ser descritas no contexto da teoria cognitiva; 
· assumir como imperativa a necessidade de tratamento integrado de Estratégias de Aprendizagem baseado na teoria e investigação correspondentes. 
· definir Estratégias de Aprendizagem; 
· diferenciar Estratégias Metacognitivas, Cognitivas e So ciais/Afectivas; 
· definir um modelo metodológico baseado em Estraté gias de Aprendizagem para desenvolvimento de conteú dos e de actividades linguísticas no ensino de L2; 
· considerar como fundamentais os pensamentos e com por ta mentos que seguimos para compreender, aprender e reter informação nova; 
· rever a teoria, colocando questões fundamentais, a saber: 
como são aprendidas as L2 (ou LS) e que papel têm as estratégias correspondentes no processo de Aquisição de Língua Segunda; que automatismos resultam dessa aquisição; o que são Estratégias de Aprendizagem, como a informação correspondente é armazenada e como pode resultar em influência positiva nas aprendizagens. 

Procurei, com estas breves palavras, deixar alguns tópicos para re fle xão e discussão, que constituem o testemunho prioritário das minhas preocupações actuais acerca do ensino de LP em África.